23.4.08

Rock'n'roll também tem vez

Pois é, não dá pra radicalizar. Passei este fim-de-semana em SP e fui dar um abraço nos meus amigos rockers, matando as saudades deles - e das baladas dançantes.

Acho pertinente esse assunto aqui porque, tirando as práticas e bailes de academia / professores abertos ao público - mas que só dança mesmo quem já está aprendendo lindy hop - as poucas opções que temos para dançar aqui no Rio de Janeiro acabam sendo ligadas ao rock: é em shows como os do Canastra ou em festas como a RioBilly que a veia retrô salta e é impossível ficar parado. É isso ou shows de jazz com ca-dei-ras. Difícil dançar com cadeiras e clima comportado. Difícil, mas não impossível.

Em São Paulo, que já existe uma cultura consolidada de 'festas para gente que gosta de músicas da época', tudo acaba se misturando: rockers e lindy hoppers vão ao The Clock para dançar, e todo mundo sai satisfeito.

* * *

Em algum momento da história da música e da dança, se dançava lindy hop ao som dos primeiros rocks tocados e gravados, aqueles que tinham uma pegada mais western swing. Mas o lindy hop, em 1954, já era dança 'de velho', e o swing já era música 'de velho', os tempos eram outros e a bateria evocava algo mais tribal, mais selvagem. Perfeito para os jovens do pós-guerra, que não tinham nenhuma grande causa contra a qual se rebelar, e precisavam soltar toda aquela energia em algum lugar.

(tou falando besteira? estou é simplificando um bocado! você tem algum adendo a fazer? os comentários estão aí pra isso!!)

A dança rock, então, evoca alguns elementos e posições do lindy hop, a dinâmica a dois é parecida, mas a cultura mudou e a música também. Você também tem um 'guia' e um 'guiado', mas os passos são mais unissex (idem para rapazes e moças), o clima de cortejo e de educação é ligeiramente menor, mas ainda cabe ao rapaz proteger sua garota de eventuais esbarrões no salão e cuidar para que a moça não seja nocauteada após três giros seguidos (os giros do rock, até pelo andamento das músicas, são muito mais selvagens).

Acabo de passar um fim-de-semana rockin' feito um hamster sob efeito de red bull (o hamster, não eu. meu combustível era amor à música, juro). Já tinha me aventurado nas dancinhas de abílio antes de ter uma base de dança aprendida em academia, aulas, workshops e práticas tanto de lindy hop quanto de outras danças a dois, e desta vez foi muito mais fácil aloprar na pista de dança, mesmo não dançando rock como se deve há bem uns seis anos. Depois de um esquenta com o básico, meu par insano ia aumentando o grau de dificuldade até chegar nos giros e quedas, testando até onde eu conseguia ir.

O rock tem essa 'vantagem' sobre o lindy hop: o passo básico é muito mais simples e você não precisa aprender como precisa aprender um swing out: REALMENTE é só seguir o rapaz. Claro que ter um histórico em outras danças ajuda, e muito, não apenas a fazer o que o moço manda como a surpreender o moço nas horas apropriadas. Mas o básico você vai pegando se o cara tiver firmeza. É só sair pra dançar. Isso, é claro, se alguém dançar.

Acho importante quem não conhece nada e veio parar aqui porque mandei o link saber que lindy hop e rock'n'roll são duas danças distintas - é só pensar que jazz e rock não são 'tudo a mesma coisa' só porque são 'coisa de topetudo'. Embora seja perfeitamente plausível se divertir e curtir os dois sons, muita gente (ou por que não gosta, ou por que não sabe) prefere não misturar as turmas.

* * *

Mandei um relato para um de meus professores, como fiquei impressionada com a naturalidade com que as pessoas dançam - diferente daqui do Rio de Janeiro, que quem dança não freqüenta festas e shows fora do ambiente de academia, e quem freqüenta festas e shows não levanta a bunda da cadeira e, quando levanta, fica dançando sozinho, como se fosse legal isso. Tá com paciência? Sentaí:

Novidades no front do rock'n'roll aqui em SP, ontem fiquei na balada dan-can-do ate as 5 da manha.

Eh muito louco, porque nenhum rocker daqui fez aula em escola de danca, as pessoas aprendem a dancar saindo pra dancar - e as dancas de rockabilly passam por geracoes e geracoes.

Achei os giros bem agressivos. Na danca de salao voce gira com os dois pes, um fazendo base pro outro. Na rua nao tem base, eh o cara te girando e ai do teu solado se nao escorregar no piso. Curioso notar que eu ja dancava rock por aqui, mas antes de ter aulas de danca a dois. Meu solado nao escorregava no piso, mas ter essa nova base me ajudou a criar um footwork na hora pra quebrar um galho.

Engracado que quando estavamos em posicao aberta, eu nao resistia e fazia um swivel de leve antes de comecarmos os trabalhos em posicoes fechadas - vicio de lindy hop - e ouvi uns 'mina, teu rock eh muito louco', mas como algo legal, sabe? Tipo 'Oh, isso eh diferente mas eh uma graca'. E eu sei BEM que ele achou uma graca, haha.

Dancei com uns 4 caras diferentes, mas mais com esse sujeito old-school - que passa uma seguranca maior, sabe? Deu pra aloprar bastante e dancar feito uma prea' louca sem ter medo de cair ou de soltar a mao na hora errada (o rock eh BEM rapido, e a conexao eh quase toda feita na mao).


-- Daí deu pra reparar bem (oi, tem rapazes lendo isso aqui?) que quanto maior a experiência do cara, maior a firmeza da indução ao movimento e a destreza da condução pelo... salão? Não. Era uma pista de dança espremidésima, entre tacos de sinuca e pessoas transitando com cervejas e cigarros acesos. A diferença foi claramente perceptível (assim como a certeza de que o caçula da turma está indo pelo caminho mais certo de todos e já dá um show aos 15 anos, imagina quando tiver trinta? Ninguém segura Vinci Cave, cara!).

Então... rapazes, cuidem bem de suas damas. Girar de um lado para o outro é a coisa mais divertida do mundo, mas dar uma porrada em alguém, mesmo que involuntária, não é. Neste ponto, a coisa deixa de ser unissex: estamos completamente tontas sendo giradas por vocês, então cuidem de nós.

Voce tem o passo basico (4 tempos, pos. fechada) e pode ficar nisso a vida inteira ou pode aloprar com passagens de braco, quedas, kicks (os aereos nao sao bem-vindos em lugares fechados e cheios, haha) e 'adornos'. O Boy aloprava nos adornos, da pra fazer umas coisas MUITO legais. Fiz umas quedas MUITO maneiras, dancando com ele - que deve ter uns vinte anos so de rockabilly. Acho que a gente podia tentar levar essas quedas pro Rio de Janeiro, isso da pra fazer em salao. Alias, nao entendo por que ninguem faz quedas. Ai no Rio sinto MUITA falta disso quando danco. Tu nao ensina queda nas tuas aulas?

-- Olha, eu não sou professora de dança e nem pretendo ser, mas esse básico qualquer um pega se tiver uma noção mínima de ritmo. Eu posso fazer contigo e tu aprende. Mas pra me girar e pra inventar adornos, aí sai mais caro: só indo a SP e aprendendo com quem dança há muito mais tempo do que eu.

Ontem teve a Riobilly Party ai no Rio, vai ter de novo no meio de maio - e vai ter show do Canastra tb, no dia 10 (vespera do dia das maes). Espero que tu consiga ir e recrutar uns alunos e amigos, porque festas e shows nao faltam no Rio - o que falta eh gente aproveitando essas ocasioes pra dancar. O publico dessas festas nao tem o habito de dancar, e se voce tiver uns tres caras tirando as meninas pra dancar ja movimenta a coisa e ja mostra pro pessoal que dancar nao eh nenhum bicho de sete cabecas.

-- Deprê é perceber que lá, qualquer boyzinho que freqüente essas festas sabe fazer alguma coisa contigo, vai querer dançar e não necessariamente com fins de procriação. Aqui, na terra do molejo e da malemolência, o que eu mais ouço é 'não levo jeito pra coisa'... ca-ô.

Vamos movimentar essa cidade ai, pra eu nao precisar me mudar pra ca em busca de boa danca todo fim de semana.

-- Em outras palavras, we're gonna rock this town, rock it inside out.

Mais alguém se habilita?

1 comment:

Anonymous said...

You write very well.